Há que pedir o impossível!

Wednesday, July 06, 2005

Orla costeira… (cont.)

Ultrapassei um condutor que partilhava a paisagem calmamente com a sua companhia. A ultrapassagem foi a única solução encontrada por mim para evitar pressões ao condutor, dado o facto de que a minha velocidade de cruzeiro ser superior. No entanto, essa ultrapassem, o olhar de relance para os seus ocupantes e a alegria sentida (apesar da distância e do movimento) fizeram-me recuar a caminhos outrora vividos, o que dadas as considerações do cruzamento anterior, nem é de estranhar. A miragem de um casal apaixonado leva-nos a pensar em relações e emoções antigas, enterradas e hoje fundamentos da edificação deste ser em particular.

Um cepticismo convicto pode, em questões de segundo, transformar-se num vazio e numa tristeza que temos de analisar por forma a controlá-la. Seria eu capaz de fazer um jantar romântico, depois de um passeio pela orla costeira? Seria eu capaz de me entregar por completo uma vez mais? A resposta a isto é não… mas até podia ser sim, porque nada disso tem a ver com a realidade. E, a realidade diz-nos que quando nos apaixonamos deixamos para lá muito do nosso ser racional.

Fico feliz por quem consegue ainda sentir a vertigem de uma paixão, lutando por ela; fico feliz por aqueles a quem essas vertigens estão longe de ser esperadas, ou desejadas; e contento-me com a minha realidade, a de alguém cujos acidentes foram de tal forma violentos que, apesar de vivo e a respirar, fora necessária a imposição de mecanismos de defesa, irredutíveis no que concerne à existência de sentimentos descritos como vertiginosos!

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